Ressurgimento da coqueluche levanta alerta para riscos às gestantes e preocupa autoridades de saúde

Causada por uma bactéria, a doença pode afetar as vias respiratórias dos bebês, acarretando sérios riscos à saúde

A vacinação de gestantes é a principal medida de prevenção contra a coqueluche (Foto: Adobe Stock)

O aumento no número de casos de coqueluche em São Paulo tem preocupado as autoridades de saúde. Em 2024, até o momento, a cidade registrou 546 casos da doença. Em 2023, foram notificados 14 casos, e em 2022, apenas um. Esse aumento representa um crescimento expressivo em relação ao ano passado, conforme dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Esse cenário não é exclusivo da capital paulista. Segundo o Ministério da Saúde, os estados das regiões Sudeste e Sul foram os mais afetados. No início do ano, diante dos surtos da infecção no exterior, especialmente na Europa e na Ásia, a SMS emitiu alertas para os serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, sobre o risco de aumento de casos no país.

AFINAL, O QUE É COQUELUCHE?

A coqueluche é uma doença respiratória altamente contagiosa, causada pela bactéria Bordetella pertussis. A infectologista pediátrica Mariana Volpe, do Hospital Infantil Darcy Vargas, explica que os sintomas variam conforme a idade e o estado imunológico do paciente. “A fase inicial da doença se assemelha a um resfriado ou a uma gripe e dura aproximadamente uma semana, com sinais como mal-estar, coriza, febre e tosse.” O segundo estágio, de acordo com a doutora, é marcado pelo acometimento respiratório, quando a tosse se acentua consideravelmente.

A coqueluche nunca foi completamente erradicada no Brasil e costuma ressurgir em momentos de maior vulnerabilidade da população. Na imagem, bactérias do gênero Bordetella vistas em um microscópio eletrônico de transmissão (Foto: Héctor Álvarez)

Nos bebês, que são o grupo mais suscetível à doença, a infecção geralmente é mais grave. A infectopediatra explica que “nos pequenos com menos de um ano, especialmente abaixo de seis meses, a doença pode evoluir para um quadro de pneumonia”. O pediatra Felipe Liporaci, do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, reforça que os pais de bebês com coqueluche devem estar atentos aos sinais de desconforto durante a respiração ou dificuldade para mamar e se alimentar. Segundo ele, é muito comum que os pacientes apresentem tosse em crises, associadas a alterações na cor dos lábios, chamadas cianose.

COMO SE PREVENIR CONTRA A DOENÇA?

Transmitida principalmente por gotículas de secreções expelidas pela fala, tosse e espirro, a coqueluche pode ser prevenida com medidas de controle. Cobrir a boca ao tossir, higienizar as mãos com frequência e o uso de máscaras pelos doentes são medidas eficientes de prevenção. Liporaci acrescenta que as crianças devem ser afastadas da escola para evitar a propagação da bactéria. Já em relação aos bebês, o pediatra afirma que deve-se evitar aglomerações, principalmente de menores de 6 meses.

A principal forma de proteger os bebês contra a coqueluche é por meio da vacinação de gestantes. Para esse grupo, é recomendada a vacina acelular do tipo adulto (dTpa), que deve ser aplicada a cada gestação, a partir da 20ª semana de gravidez. No calendário básico de vacinação do Programa Nacional de Imunização (PNI), a vacina pentavalente (indicada para prevenir a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae tipo b) é aplicada em 3 doses para crianças menores de 1 ano, sendo administradas aos 2, 4 e 6 meses de idade. Além disso, existem duas doses de reforço com a vacina DTP, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.

Além de prevenir a coqueluche, a vacina pentavalente também protege as crianças contra otite, pneumonia e meningite (Foto: Julia Prado)

O QUE EXPLICA A QUEDA NA VACINAÇÃO?

A cobertura vacinal do imunizante que protege os pequenos contra a coqueluche caiu significativamente desde 2012. De acordo com o Ministério da Saúde, a taxa de cobertura da DTP em menores de 1 ano de idade na cidade de São Paulo em 2024 é de 45,25%, enquanto a meta é atingir 80%, para evitar que o vírus circule e cause epidemias.

O ressurgimento da coqueluche no país está relacionado a vários fatores. Volpe destaca que não podemos ignorar o fortalecimento dos movimentos antivacina, que têm questionado os benefícios dos imunizantes e enfatizado eventos adversos. Além disso, ela observa que há outro fator a ser considerado: “Quando as doenças estão bem controladas, a percepção da necessidade de vacinação diminui.”

Outro fator responsável pela queda na cobertura vacinal é a pandemia, pois foi um período em que muitas famílias adiaram a vacinação devido ao isolamento social. Como resultado, muitas pessoas postergaram a ida às unidades de saúde para vacinar os filhos.

O TRATAMENTO ESTÁ DISPONÍVEL NO SUS?

O tratamento para coqueluche é realizado com antibióticos, disponíveis gratuitamente nos serviços de saúde. A infectologista Mariana Volpe explica que, uma vez suspeitado e confirmado o diagnóstico, o tratamento é baseado no uso de antibióticos específicos de uma classe chamada macrolídeos, como a claritromicina e a azitromicina, que são amplamente usados no tratamento de infecções respiratórias causadas por outras bactérias, mas somente esses têm ação eficaz contra a Bordetella pertussis. O tratamento é relativamente simples e dura cerca de cinco dias. De acordo com a médica, após completar o ciclo de antibióticos, o paciente deixa de transmitir a doença para outras pessoas.

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