Durante o evento da Avène, a dermatologista Daniela Pimentel explica por que o “sanduíche de produtos” pode comprometer a saúde da pele e destaca a importância de rotinas mais simples e personalizadas.

Nos últimos anos, o universo do skincare se transformou em um dos temas mais populares das redes sociais. Rotinas de dez passos, vídeos de “camadas perfeitas” e influenciadoras mostrando banheiros cheios de potes coloridos viraram parte da estética do autocuidado. Mas o que parece um ritual de beleza pode se tornar, na prática, uma armadilha para a pele.
Durante o evento de lançamento da nova geração da linha Retrinal, da Avène, que agora inclui o Retinal Oil Control, a dermatologista Daniela Pimentel falou com a GouMag sobre os riscos de aplicar diversos produtos em sequência, o famoso skincare sanduíche. Ela defendeu um olhar mais racional e científico sobre o que realmente faz diferença. “Os produtos são testados isoladamente. Quando você mistura muitos, um em cima do outro, a gente já não tem certeza se eles vão ter a mesma performance”, explica.
O mito da rotina coreana e as diferenças tropicais
O conceito de aplicar várias camadas de produtos, segundo Daniela, vem principalmente das rotinas coreanas, conhecidas pelos inúmeros passos. No entanto, ela faz um alerta: o que funciona para uma pele asiática pode não ser adequado para o clima e a genética brasileiros.
“O estilo de vida e o ambiente das coreanas são completamente diferentes do nosso. Elas vivem em um país que não é tropical, têm menos exposição solar e uma genética distinta. A textura, a hidratação e até a barreira cutânea funcionam de forma diferente. Não é copiando a rotina delas que vamos ter o mesmo resultado”, afirma Daniela.
A dermatologista lembra que, enquanto o K-beauty virou símbolo de sofisticação e cuidado, ele precisa ser reinterpretado dentro da nossa realidade climática, que é quente, úmida e cheia de contrastes. “A gente está exposta ao sol todos os dias da vida, desde que nasce. Isso muda tudo na forma como nossa pele reage.”

Camadas em excesso e a perda de eficácia
Além de não haver comprovação científica sobre os benefícios de aplicar muitos produtos ao mesmo tempo, Daniela explica que o efeito pode ser o oposto do desejado. “A eficácia que a indústria comprova em testes é daquele produto sozinho, não em um coquetel de fórmulas. Quando você mistura demais, pode até perder o benefício de cada um.”
Ela ressalta que há exceções, como o uso de hidratantes antes de ativos potencialmente irritantes, caso dos retinoides. “A gente sabe, por estudos, que hidratar antes de aplicar o retinoide ajuda a reduzir irritação, sem comprometer o resultado. Mas, fora isso, colocar uma coisa sobre a outra não tem evidência de que funcione melhor.”
Outro ponto importante é o risco de interações indesejadas entre ingredientes. Certos ativos podem neutralizar outros, aumentar a sensibilidade da pele ou até causar alergias. “Às vezes, um produto tem uma concentração alta de ácido e o outro também. Juntos, podem causar irritação, vermelhidão e descamação, mesmo sendo bons individualmente.”

Rotina inteligente: menos é mais
Durante a entrevista, Daniela reforçou a importância da individualização da rotina de skincare, levando em conta o estilo de vida, o clima e as reais necessidades da pele. “Antes de prescrever qualquer produto, eu preciso entender o paciente, onde ele mora, se pratica esportes ao ar livre, se vai muito à praia. Tudo isso interfere na resposta da pele.”
Em vez de adotar uma rotina complexa, a dermatologista defende a eficiência dos produtos multifuncionais, tendência que cresce na dermatologia e na indústria cosmética. “Os multifuncionais são muito interessantes porque você sabe que tudo ali foi testado junto e formulado para funcionar em sinergia. É melhor usar um bom produto completo do que misturar vários sem saber como vão reagir.”
Ela cita, por exemplo, a nova geração do Retrinal, linha antienvelhecimento da Avène, que segue essa proposta: unir eficácia clínica e praticidade. O destaque da atualização é a versão do Retrinal Creme 0.1, lançada em 2022, que contém uma nova fórmula e embalagem. A composição inclui o retinaldeído, ativo mais rápido e eficaz do ácido retinóico, além de não irritar a pele.
Já a niacinamida e o ácido hialurônico, em dois pesos moleculares, fazem com que os produtos penetrem melhor na pele. Redução de rugas, aumento da firmeza da pele e correção de tons irregulares são outros benefícios. A linha ganha também o reforço do Retinal Oil Control, pensado para peles oleosas, com textura em sérum. O consagrado Retrinal Olhos, por sua vez, mantém a fórmula 3 em 1, que atua na redução da aparência de rugas, bolsas e olheiras, mas ganha nova embalagem.
Skincare como autocuidado, não como competição
Para Daniela, a rotina de cuidados com a pele deve ser encarada como um gesto de autocuidado consciente, e não como uma corrida por resultados instantâneos. “A internet cria a sensação de que a gente precisa de mil produtos para ter uma pele boa, mas, na verdade, o que faz diferença é constância, proteção solar e usar o que é certo para o seu tipo de pele.”
Ela também observa um comportamento crescente entre as gerações mais jovens: o de começar o skincare cedo demais, com produtos potentes demais. “É ótimo que as pessoas queiram se cuidar, mas é preciso orientação. Usar ativos errados pode causar mais dano do que benefício.”
Ao final da conversa, a dermatologista reforçou que, na busca pela pele perfeita, a simplicidade pode ser o maior luxo. “Ter uma rotina enxuta, eficiente e prazerosa é o ideal. O tempo que você economiza pode ser usado para o que realmente importa: viver.”